domingo, 9 de outubro de 2011

Penso cada vez mais em me atirar nos seus desejos, que são meus também. Quero viver além daquilo que anseio. Quero sentir outras sensações térmicas, envolta por braços longos. Desejada e apreciada. Ser uma parte do outro. Sem esperar, só viver, esquecer, deixar.
Pele contra pele. Traço passado raspando pela derme que se espalha. Calor que vem de dentro e nasce sem perceber de onde menos se espera. Mão contra cintura, dedo contra mão, boca contra pescoço. Lábio. Perfeitamente esculpido em carne viva, fulgaz, intimidadora. Calor sentido que vem de um corpo estranho, alheio de fora. E no entanto nada é real, nada é além do toque. Da pele contra pele. Todos os demais são devaneios, vindos de mentes imaginativas, vindos do âmago, do interior profundo, do coração afetado.
Dos insetos interiores e do dia seguinte.
As vezes a dor é feita para não se perceber. Para entrar sorrateiramente pelos vincos unidos na blusa. Essa coisa estranha, essa sensação aguda no peito, esse aperto que mata. Feita para chegar calmamente e se apossar dos dispostos e indispostos a ela, sem que se tenha o poder de decisão.
A dor que chega numa música lenta, num teatro sem falas, ou do silêncio do caos. Essa pontada-sem-nome-nem-lugar-nem-razão. É uma espécie de sensação que se sente com o mundo, não tem motivo real, não é a angustia da existência, não é premeditada também. É só uma tristeza digna de dias chuvosos. Sem dono, sem-razões. Feita de qualquer produto não industrializado, urbanizado, enlatado, comercializado, capitalizado, desfrutado ou amado. Feita talvez das nuvens responsáveis pela chuva clara e cortante. Feita pelo mundo onde habita frustrada, como tristeza deve ser.
Pensamentos novos, novas ideias, realizações, é a maior necessídade. O mundo está muito comum e o tempo, criação estúpida, passa tão rápido, parecendo fazer com que nada valha a pena. E mais, tudo que se faça em oposição a isso parace não fazer sentido, ser inutilidade e digno de descrédito. "O mundo está ao contrário e ninguém reparou"