domingo, 13 de novembro de 2011

As Contradições do Corpo

"[...]Quero romper com meu corpo,
quero enfrentá-lo, acusá-lo,
por abolir minha essência,
mas ele sequer me escuta
e vai pelo rumo oposto.

Já premido por seu pulso
de inquebrantável rigor,
não sou mais quem dantes era:
com volúpia dirigida,
saio a bailar com meu corpo." - Carlos Drummond de Andrade

A CIDADE MONSTRO

A cidade engole,
em sua característica de monstro,
as almas pequenas e grandes,
os artistas e as pombas, os coqueiros
e as calçadas,
tudo.
A cidade é feita de prédios altos e de pessoas baixas,
ambos espelhados.
A cidade é feita da sons e cores.
Não é monstro dócil, ou domesticado.
A cidade é animalesca,
brutal, primitiva.
Ao mesmo passo que se coloca com inventiva,
fonte de inspiração e oportunidades.
O som da música frágil
é esmagado pelos motores
dos carros, pelas buzinas
dos carros, e pelos ouvidos
surdos
interminavelmente à beleza do que
é verdadeiramente belo.

"Minha janela redonha
das coisas que existem e não existem,
onde vejo namoros ardentes de colegiais,
teatro em plena rua,
brigas de casais, furtos à meia-lua.
Fantasio outras ruas extemporâneas
com olhos biônicos de câmera de vigilância.
Monitoro vidas paralelas a essa
porque o tempo nesta janela é o do pensamento,
corre na velocidade das nuvens
e nunca se reconfigura como da primeira vez.
Minha janela redonda, das coisas que se veem e que não se veem." - Elisa Andrade Buzzo