segunda-feira, 30 de abril de 2012
"Prefiro descobrir aos poucos, pensei. Saborear o mistério. Na quadra seguinte, ela atravessou a rua e sumiu no meio da gente miúda que andava pelo centro. Colorida em meio ao cinzento que predominava ao redor. Olhei para o rosto do porta-retrato: tinha uma luz particular, só dela, e um ar de quem poderia ser o que quisesse na vida.
[...]
Estou relendo o trecho em que o professor Schianberg se ocupa da separação dos amantes. As transitórias e irremediáveis. Ele menciona um maluco norueguês que afundou um navio como oferenda pela volta da amada. O problema é que o navio não era dele, e deu cadeia. Eu afundaria todos os navios nesta noite, Lavínia. Incendiaria o porto. Só para ver o brilho das chamas refletidos nos seus olhos escuros." - Eu Receberia As Piores Notícias Dos Seus Lindos Lábios - Marçal Aquino
[...]
Estou relendo o trecho em que o professor Schianberg se ocupa da separação dos amantes. As transitórias e irremediáveis. Ele menciona um maluco norueguês que afundou um navio como oferenda pela volta da amada. O problema é que o navio não era dele, e deu cadeia. Eu afundaria todos os navios nesta noite, Lavínia. Incendiaria o porto. Só para ver o brilho das chamas refletidos nos seus olhos escuros." - Eu Receberia As Piores Notícias Dos Seus Lindos Lábios - Marçal Aquino
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Nasceu com o coração aberto,
Escancarado, de peritônio exposto
Para que o mundo visse
Sua face real.
Nasceu sem derme
Que o revestisse,
Pronto para que o mundo
O acertasse em cheio
No alvo principal,
No alvo único.
Nasceu sem medo.
O mundo o matou
Em seu primeiro fólego
Com a pesada mão
Da agonia de ser mundo.
Pois era demais corajoso
E demais verdadeiro
E demais espírito
Para que pudesse existir.
Escancarado, de peritônio exposto
Para que o mundo visse
Sua face real.
Nasceu sem derme
Que o revestisse,
Pronto para que o mundo
O acertasse em cheio
No alvo principal,
No alvo único.
Nasceu sem medo.
O mundo o matou
Em seu primeiro fólego
Com a pesada mão
Da agonia de ser mundo.
Pois era demais corajoso
E demais verdadeiro
E demais espírito
Para que pudesse existir.
terça-feira, 24 de abril de 2012
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Hoje a sua mão me chamou, de leve, provocando um curto-circuito em minhas funções motoras. E nada além do riso frouxo me passou pela face. Tentei ir, seguir pelo caminho reto e curto da felicidade. Mas não seria eu, se não complicasse ao menos um tanto. O muito de tato, que havia no chamado vago feito pelas mãos de dedos longos era uma oração, um encantamento. Mas recusei.
Deixei passar ao largo, tua boca, teu perfume, tua névoa. Fiquei.
Nem sei porque não fui. Nem sei se ainda tem tempo. Nem sei se tudo foi sonho.
É esperar pra ver, meu bem.
Deixei passar ao largo, tua boca, teu perfume, tua névoa. Fiquei.
Nem sei porque não fui. Nem sei se ainda tem tempo. Nem sei se tudo foi sonho.
É esperar pra ver, meu bem.
sábado, 21 de abril de 2012
Poesia é uma questão de olhos
"pois forma e função coexistem e seus papéis só se definem no contexto" - p. 222, Gramática Reflexiva, William Cereja e Tereza Cochar
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Faz tempo que os meus pés deixaram de me sustentar. Pairando no vácuo, no espaço, numa terra distante, girando e girando, sem direção, sem mastro, nem leme, nem vela. Sem barco, na sinceridade.
Faz tanto tempo, e eu já nem ouso lembrar do início. Parece que é uma caminhada longa a volta, a ida e até o não sair do lugar. Abandonar essa cadeira rasgada, colocar os pés no chão, parece a velhice morando dentro, das almas acostumadas a mesma vivência, ao mesmo segredo recontado, a mesma música e as mesmas palavras. Sempre o voo dos pássaros acontece por trás da janela fechada.
Faz tanto tempo, e eu já nem ouso lembrar do início. Parece que é uma caminhada longa a volta, a ida e até o não sair do lugar. Abandonar essa cadeira rasgada, colocar os pés no chão, parece a velhice morando dentro, das almas acostumadas a mesma vivência, ao mesmo segredo recontado, a mesma música e as mesmas palavras. Sempre o voo dos pássaros acontece por trás da janela fechada.
É a sua intensidade, o que mais me seduz. É tudo tão forte, tão vívido, quando tem você no meio. Deve ser porque eu sou assim, sempre mais perto da calmaria, da falta de riscos e do ácool, das mesmas músicas, dos mesmos erros, do mesmo medo, do intelecto, da teoria. Da mesma angústia tola. Mas é isso que mais me assusta em você também. Parece que em cada meio passo, você vê vinte. Deseja vinte. A falta deles é um turbilhão de coisas, como meus textos sem nexo. Como os parágrafos soltos de meus textos sem nexo.
Não há linearidade em nós. Há um ciclo, imutável e desgastante, que nos prende, um ao outro. Numa infinita volta que vai se quebrando em milhares de pedaçinhos, ao longo do caminho, mas nunca termina.
Não há linearidade em nós. Há um ciclo, imutável e desgastante, que nos prende, um ao outro. Numa infinita volta que vai se quebrando em milhares de pedaçinhos, ao longo do caminho, mas nunca termina.
terça-feira, 17 de abril de 2012
domingo, 15 de abril de 2012
"Eu confio no fluxo natural da vida"
Como posso eu dizer, que confio no fluxo natural da vida, se me imponho regras, normas, horários e regulamentações em tempo integral? Tempo esse, que não existe. O relógio, apenas o relógio existe. Não confio. Se confiasse não seguiria penando por fazer tudo que não gosto. É bem fato, que devia aprender a confiar, mas não confiar é o próprio fluxo natural, não da essência, mas da realidade da vida que encarno.
Quem me disse que confia, foi alguém que gosto muito, mas que não acredito que realmente confie nesse tal fluxo natural. Prendo-me ao relógio e as obrigações, ela também.
Obrigações é um nome que provoca uma angústia no peito só de ouvir.
Tenho mais medo da rotina e da monotonia em que me encontro, do que do amor e olha que tenho um medo tremendo do último. Porque rotina e monotonia podem ter fim, mas se enraizam feito erva daninha, fechando olhos, mãos e coração.
Como posso eu dizer, que confio no fluxo natural da vida, se me imponho regras, normas, horários e regulamentações em tempo integral? Tempo esse, que não existe. O relógio, apenas o relógio existe. Não confio. Se confiasse não seguiria penando por fazer tudo que não gosto. É bem fato, que devia aprender a confiar, mas não confiar é o próprio fluxo natural, não da essência, mas da realidade da vida que encarno.
Quem me disse que confia, foi alguém que gosto muito, mas que não acredito que realmente confie nesse tal fluxo natural. Prendo-me ao relógio e as obrigações, ela também.
Obrigações é um nome que provoca uma angústia no peito só de ouvir.
Tenho mais medo da rotina e da monotonia em que me encontro, do que do amor e olha que tenho um medo tremendo do último. Porque rotina e monotonia podem ter fim, mas se enraizam feito erva daninha, fechando olhos, mãos e coração.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Intertexto
Pequena mosca,
Mosca que anda em jogo vão,
Cortada por entre meios
Brutos, pelas mãos toscas e rudes.
Ah, pequena mosca,
Quem dera tu, fosse como eu.
Quem dera gozasse os prazeres
Da decreptude humana.
Quem dera mosca,
Tu gozasse o tédio e a angústia.
Tu amasse os homens que,
No entanto,
Lhe desprezam.
E que eu, mosca,
Tivesse as tuas asas simétricas
E o teu jogo animal.
E tu, mosca
Cortasse os olhos e as asas
Do jogo bruto
Da vida.
Mosca que anda em jogo vão,
Cortada por entre meios
Brutos, pelas mãos toscas e rudes.
Ah, pequena mosca,
Quem dera tu, fosse como eu.
Quem dera gozasse os prazeres
Da decreptude humana.
Quem dera mosca,
Tu gozasse o tédio e a angústia.
Tu amasse os homens que,
No entanto,
Lhe desprezam.
E que eu, mosca,
Tivesse as tuas asas simétricas
E o teu jogo animal.
E tu, mosca
Cortasse os olhos e as asas
Do jogo bruto
Da vida.
terça-feira, 10 de abril de 2012
segunda-feira, 9 de abril de 2012
domingo, 8 de abril de 2012
"Na natureza nunca eu descobrira um contorno feio ou repetido! Nunca duas folhas de hera, que, na verdura ou recorte, se assemelhassem! Na cidade pelo contrário, cada casa se repete servilmente a outra casa; todas as faces reproduzem a mesma indiferença ou a mesma inquietação; as ideias têm todas o mesmo valor, o mesmo cunho, a mesma forma, como as libras; e até o que há mais pessoal e íntimo, a ilusão, é em todos idêntica, e todos a respiram, e todos se perdem nela como no mesmo nevoeiro... a mesmice" - A Cidade e As Serras - Eça de Queirós
As despedidas são sempre cheias de portas fechadas, e de um amor contido. Que não seja pelo que se despede é pelo outro, que espera escondido, em uma esquina qualquer. Há despedida numa nota solta num violão de Baden, é aquela nota contida, em que mora um mundo dentro. Onde se morre um mundo dentro, de um toque calado, de almas. As despedidas só são bonitas, pelo desejo da volta. É nesse ponto, que as despedidas são mais bonitas que os encontros, pois estão fadadas ao desfecho, e a esperança vã da continuação do roteiro. Que nunca termina, afinal.
sábado, 7 de abril de 2012
sexta-feira, 6 de abril de 2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Me dá um medo assim, de revelar esses segredos intrincados, nem tão secretos, mas nunca antes revelados. Fruto da persuasão, da contradição. Nas páginas de papel reciclado, me dá um medo rasgado, de descobrir o que é seu. E me dá um medo maior, de descobrir o que é meu, nas minhas linhas perdidas. Boa sorte para nós, nessa grande aventura de final de semana.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
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