domingo, 30 de dezembro de 2012

Prefiro assim.
Sem roupa, sem maquiagem,
Sem peso, de cabelo solto.
Nua, nua, nua, nua, nua, nua,
Em todas as instâncias do amor.

18/09/12 escrito no canto inferior direito de uma prova bimestral de física

O amor é um pedaço de terra, comprado a muito custo, num pouco desértico de mundo. Sem água, nem luz, nem nitrogênio, uma planta miúda nasceu.
Os ventos de dezembro não trazem nada, porque dezembro não tem ventos, tem mormaço. Tem Bukowski e falta de amor próprio. Dezembro carrega uma ironia particular, um famigerado e repetitivo ar de esperança, de fim, de vitória ou de perda de tempo total. De porre.
Dezembro carrega em si um ar de urgência, de pressa para acabar, de pressa pra ir embora e inserir um ponto final na história de um ano melancolicamente real. Impossível, inacreditável. Dezembro é a lembrança do meu fracasso E da minha amargura. É a lembrança de não ser lembrada.
Dezembro é a destituição dos fatos. Dezembro é o fim. Dezembro é só mais uma contagem temporal inútil. Só um mês e mais nada.
Se agosto é o mês do cachorro louco, dezembro é o mês do homem quebrado.
Dezembro é o fim para mim.
É quando os restos mortais daquela flor lilás que nós achamos juntos na calçada se esfacelam por acidente em meu colo.
Dezembro é o mês de entregar os pontos, o mês do cansaço e do esboço. Dezembro é a hora de pensar que nada valeu a pena, que foi tudo uma desgraça. De perceber que você caminha sozinho.
Dezembro é o mês da autopiedade, do remorso, da inquietação, da falta de perspectiva.
Dezembro é o mês do ócio e do ósculo descoberto.
Temo janeiro. E o dezembro que vem.
Porque dezembro ainda é a representação de futuro.
Dezembro é a morte prematura de algo que não se permite acabar.
Dezembro é imperceptível. Rápido, de uma forma contraditoriamente arrastada.
Dezembro é o próprio porre. Ganho aos sopetões, em goles para engasgar, com ânsia, feito água pra matar sede.
Dezembro é uma necessidade corrupta de provar a si mesmo sua capacidade de fatigar o outro e a si.
Dezembro é um pé no saco, uma vertigem, uma impotência de 31 dias.
Dezembro é a crueldade da repetição e da ausência do novo.
Dezembro é tudo que desprezo nos outros (é tudo que desprezo em mim).
Dezembro é o turbilhão, a raspa do tacho, a angústia prevista.
Dezembro é a necessidade do fim que nunca vem.
Dezembro é uma nuvem de poeira diretamente nos meus olhos.
Dezembro é o esclarecimento dos erros e a escancaração dos mesmos. Dezembro é a descoberta bruta.
Dezembro é um soco no ouvido.
Dezembro é uma flor negra e um fruto podre de uma vida sem grandes feitos.
Dezembro sou eu e ninguém mais.
Dezembro é o fim que nunca chega do filme que te angustia pela dor de cabeça que te provoca.
Dezembro é a penitência total.
Dezembro é um semi amar. Dezembro é o caos, o terror, a poesia.
Dezembro é uma falsidade sem tamanho, para suprir as iposições do superego.
Dezembro é a vontade de se jogar de um prédio de 90 andares, esperando que alguém milagrosamente te salve antes de cair. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ansio pela vida de nunca terei. Pelos tempos vindouros que, numa determinada esquina ou campo aberto, se esclarecerão como inexistentes, como fruto onírico da infância, do desejo capitalista, das revistas de moda com lindos anúncios publicitários próximos ao mar mais azul que eu já (não) vi. Espero secretamente (tão secretamente que nem me dava conta até então) por qualquer coisa impossível, qualquer coisa que, mesmo que seja real, não terá o sabor que agrego a ela agora.  Qualquer coisa inexistente, inatingível. Tomo consciência de sua virtude de sonho, mas, por uma força ainda inesclarecida, não há maneira de me desvenciliar do propósito de alcançar o sonho, que não tem forma definida, mas tem vontade. Vontade febril de existir.

sábado, 24 de novembro de 2012

Sou diferente de todas as coisas que acreditava ser. Inacreditávelmente diferente de tudo que pensava existir e de tudo que ainda poderei ser. Pensar nada adianta, se nada segue adiante. Estática personalidade, mutantes estatísticas sobre minha pressão interna. E temperatura corporal volúvel, volume se conserva. Dizem por aí: "É daquelas tipo transformação isocórica, sabe?". Sou física pura, meu bem.
A sincroniza da felicidade aparece e para em meu peito. Estaciona momentaneamente, mas ainda em movimento. Não sei de que forma. A calma de amor me preenche. Algo além do meu próprio corpo me preenche. Talvez devêssemos dar mais chances ao acaso, ao presente, ao que se oferece. Abrir mentes e corações para o que os seres humanos podem fornecer espontaneamente. Penso apenas no presente e como se fosse uma mistura sincera de Alberto Caeiro e Ricardo Reis, parece que mergulho num universo de sono e sonho. Quero viver.

"Is nice to love and be loved"

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O mundo está todo do avesso. Preciso dizer as palavras que sinto, as coisas que penso. Gritar através dos signos, das montanhas, das pessoas, dos próprios gritos. A voz mais suave de todas, é o grito mais poderoso.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

"Pensando bem, não era tanto assim uma questão de hábitos nem de mimos. Acontece que toda hora é hora de avançar na escala evolutiva, subir mais um degrau. É mesmo impossível ficar parado e, qualquer que seja a direção em que as pernas começam a andar, o chão logo toma a forma de uma escada. Além do mais, é preciso reconhecer: sem mal-estar, sem adversidade, sem um castigo sequer, com se podem esperar que haja alguma adaptação?" - Rubens Figueiredo (Passageiro do Fim do Dia)

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

"(silêncio)
- Está anoitecendo. Vamos embora.
- Não quero ir embora. Eu vou dormir aqui.
- Não pode, é perigoso.
- Perigoso por quê?
- Você só tem dezesseis anos.
- E isso é perigoso?
- Perigosíssimo." - Caio Fernando Abreu (Antípodas, em Ovelhas Negras)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

"Respeito muito minhas lágrimas
Mas ainda mais minha risada" - Gal Costa
Alguém me disse: "Você não faz ideia". Aparentemente, a dor do mundo é sempre maior que a do próximo. Sempre a minha dor é maior que sua. E sempre meu conforto é menor que o seu. Meu drama é mais sincero. Sua babaquice é menor que a minha.  A minha existência é pior e mais sofrida. "Você tem alguém". Como? Somos todos tão sozinhos, tão egoístas, íntimos apenas de nós mesmos, não revelando os segredos mais cretinos, mas acreditando piamente que eles não existem no interior de nossa mediocridade. A minha dor é talvez a mesma que a sua. Eu tenho ideia. Eu não sei, mas acredito entender.

sábado, 3 de novembro de 2012

"Estou meio... Sei lá... Num processo meio louco de reflexão de tudo, tudo faz sentido, mas nada ao meu alcance. Tenho que mudar e vou, mas... Estou meio tonta" - SMS para Laila

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Hoje não avisto problemas futuros, nem imediatos. Acho que os desconheço. Acho que não os reconheço e desejo aplicar um sentimento apático de desconhecimento, ignorância fingida, fragmentada.Quero deitar em seu colo quente e apenas não ser nada. Fingir que o teu peito é o azul profundo do mar, querer sorver teu calor emanado. Ser nada além daquilo que no presente momento sou. Só.
"O mundo todo é hostil" - Los Hermanos (De onde vem calma)
"Eu jogava sentado
Olhando de lado, cansado
Amarrotado 
Prematuro 
Triste e cansado
Entrelaçado, comprometido e simbiótico
Biológico, estado inerte
Como está. E fica. Passa. E renova.

For Bel " - Julian de Oliveira Silva 
"E por falar em saudade onde anda vocêOnde andam seus olhos que a gente não vê"  Vinícius de Moraes (Onde anda você)
"A alma reduz-se a mínimos complexos" - Wilhem Klem (O meu tempo)

sábado, 20 de outubro de 2012

"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva" - Cazuza (Todo o amor que houver nessa vida)

domingo, 7 de outubro de 2012

Escolhendo o mínimo do mínimo dentre candidatos com cabeças expostas em bandeja de prata. Me senti dessa maneira após apertar o último confirma e sair da seção 0386. Sem grandes perspectivas de futuro, esperando que em algum ponto, tenha feito a escolha certa. Vazia. Impotente. Levada pela corrente e lavada pela chuva de papeis amassados e escorregadios que vai continuar cobrindo as ruas até o fim da semana. E depois entupindo bueiros até o final do mês. Afogando alguns sujeitos azarados, a mercê de uma linda constituição falha. Se bem que não é verão, então os sujeitos azarados agora são sortudos. Alguns ganharam seus respectivos "cinquentinha" para distribuir os cartõezinhos que vão entupir os bueiros, pertencentes também aos sujeitos que aceitam os papeis coloridos, observam desatentamente os números e as faces gordas e enrugadas no papel, apertam os mesmos números na urna cinza, para depois atirarem o retângulo da origem do voto a um canto qualquer. Sujando as calçadas que também são dos sujeitos que não jogam papeis no chão. Achei que algum sentimento revolucionário iria brotar de meu peito no último instante, mas não. Foi mecânico.
A gente espera que dê certo.

domingo, 30 de setembro de 2012

Os cânticos religiosos proferidos do outro lado da janela. Prostrada na cama, entre cobertas, sentindo-me como um corpo morto, velado em novena, como embalado por um sono doce de infância. De infância de acompanhar avó na reza e de entoar ladainha e terço. Há tempos não coloco um pé na igreja. Questão de identificação e de questionamento. Nada melhor que a doença para fornecer inspiração.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

"É só pensar em você
Que muda o dia
Minha alegria dá pra ver
Não dá pra esconder" - Chico César
Santa chuva
Passa pelo alto das mangueiras
E dos ipês amarelos
Voa em gotas de vento
Partículas cósmicas
De uma rutilância
Própria
Cai nos jacarandas
E na minha face sonolenta
Volta!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

"Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular" - Marisa Monte (Infinito Particular)
Manter a felicidade é uma coisa difícil.

domingo, 9 de setembro de 2012

"E surgiu-lhe então uma ideia bem clara da sua própria força e do seu próprio valor.
Sorriu.
E no seu sorriso já havia garras." - Aluísio Azevedo  (O Cortiço)

sábado, 8 de setembro de 2012

06/07/12

97 km/h. Poucas palavras ditas ao acaso. O homem grande, que quase não coube dentro do táxi, parecia feliz ou, no mínimo, satisfeito. Feliz em retornar ao país que o acolhera a exatamente 41 anos e 364 dias, para que agora pudesse preparar a volta definitiva para a sua terra cansada de guerras.
A mulher e a menina no banco traseiro se acanhavam com o quase estranho conhecidíssimo homem. Tudo em rebuliço por dentro.
Gostaria de ter aberto meu peito e minha vida mais tardiamente. Esperado calmamente que uma espécie de mão divina me guiasse até um peito qualquer e que assim, sem pressa, nem pressão, me fisesse viva. E me ligasse aos poucos ao outro. Para que fosse menos incisivo, mais maduro e menos criticado. *suspiro*

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

domingo, 2 de setembro de 2012

"You aint got no shoes,
But you've got the blues
And that's enough to hit the road" - Mallu Magalhães (You know you've got)
Seis dias tristes por um feliz. Uma eternidade por uma fração de segundos. E você bem ali do lado, na amargura que corrói.

sábado, 1 de setembro de 2012



O primeiro Degas, o primeiro Monet, o primeiro Renoir, o primeiro Van Gogh, o primeiro Cézanne, o primeiro Gauguin, o primeiro Lautrec, é coisa memorável. Respirar o mesmo ar refrigerado que as telas e as tintas, craqueladas ou não, dos amados estudados, é dar nova vida aos gênios das pinturas conservadas pelo amor do tempo e dos curadores de exposições. Olhar Gabrielle e Jane de traços suaves e pele iluminada, a brincar com seus bichos de madeira, chega ao ponto do espanto de descobrir a existência dos mesmos, pela primeira vez. As bailarinas azuis nos bastidores, numa semi-dança clássica, muito além da termosfera.  As ninfeias.  Sim, as ninfeias. As ninfeias matizadas sob a pequena ponte arroxeada do jardim de Giverny. As ninfeias feito ninfas. Nos sonhos materializados em misturas de cores na tela, intensa represetação dos reflexos da luz, e uma impressão do nascer do sol.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Três. Sentados junto a calçada crua de cimento e cal. Olhares fixos em caixas extremamente longes dali. Coisas internas mais que extremas.
Focar-se no ponto azul longínquo, no meio do infinito azul, mão significa necessariamente que se esteja olhando qualquer coisa.
Nenuma pele toca outra, nenhum olhar ousa desviar-se de seu ponto fixo, mas, talvez pelo calor emanado pelos corpos, era como se estivessem ligados, cobertos pelo mesmo perfume insípido feito do que podia se chamar vida. Em conjunto. Ou mesmo não.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quero dançar o som da melodia que sai da tua boca e dá à tua boca a essência definitiva da coisa mais bela. E rodar em movimento de saia ampla, feito o infinito, nos quadris. Perder as unhas na pele, cravadas pouco a pouco a suplicar o santo nome. E os pés, que se afastam progressivamente do chão, trilham a trajetória da dança lenta, fluida, magnética, de globos oculares castanhos de passagem pelo mundo. Rodando, rodando, rodando, em um movimento kamikase que busca luz nos princípios mais estranhos. Na escuridão das faces cansadas da procura ininterrupta pela única verdade contida nos corpos terrenos: teu sangue sobre-humano, que conta aos anjos os segredos do céu. E conta a mim os segredos de dentro do homem, de dentro de ti, homem-humano-sobre-anjo. A luz que busca outra luz corrente, em outra face recorrente, em outro ser acorrentado. A luz que emana por princípio interno, é antes tocada, ativada, pela luz do outro. E dessa forma se faz corpo-celeste. E fonte de calor. Da noite escura do sorriso de lua crescente.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"I go crazy cause here isn't where I wanna be
And satisfaction feels like a distant memory
And I can't help myself,
(...)
Well, are you mine?" - Artic Monkeys - R U Mine?
 

terça-feira, 21 de agosto de 2012


"Sobre o oceano

Sobre o oceano, balançam as pernas
Riem da infelicidade, recebem-na com
Carinho, aguardam uma mudança

As águas calmas, mas profundas
Dançam sob seus pés, enquanto
Acenam aos barcos que distante vão

As estacas compridas sequer sustentam
O vento salgado e úmido que acerta
Lava suas feridas, refresca-lhes a alma

Buscam, dali de cima, um destino
Um rumo, um caminho que lhes leve
A um lugar um pouco melhor

Creem em si e no mar, em nada mais
Desafiam a morte e a vida, pois
Não creem em infelicidade maior

Fecham os olhos, gritam palavras
Fazem as dores serem levadas pelo ar
Sobre o oceano, balançam as pernas" - Guilherme C. Dias
Sobre o primeiro desejo, a primeira luz do dia, a coisa mais bela, azul e amarelo fundidos com nuances de branco puro, deixo agora a carta de despedida de meus prazeres. Confesso minhas angústias trancadas e a incapacidade criativa, limitada pela condilção de tristeza e amargura, tão incomuns em outros tempo, tão presentes no exato momento. Prezado seja o amor e as conexões da alma, prezada seja a falta que cala as lágrimas impuras de pura dor constante.
A singeleza do som do bandolim na música, não causa comoção real. É apenas trilha sonora dos apertos no peito e da falta de uma questão primordial que dê propósito.
Não se completam mais os corpos, nem os braços, só a água quente é conforto propício e posssivelmente palpável, para quem se esqueceu ou nunca soube o que fazer da existência.
Não, não há culpados. Nada além de sentimentos extremamente dramatizados, emocionalmente incapazes de se conterem dentro de si,
Não há nada nas mãos, quanto mais dentro do peito frio, que contraria as leis biológicas até então confirmadas. Não há capacidade de manter temperatura constante do corpo e de aquecer internamente o frio que emana de dentro pra fora.
Não há nada entre os pulmões. Nada inteiro entre os pulmões. Os próprios pulmões começam a se esvair no ar rarefeito.
Quero me desmanchar no ar.

sábado, 18 de agosto de 2012

QUIPROCÓ
Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar no lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto.

Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicído de um poeta.

Senhor, Senhor, que digo eu (?)
que ando vestido pelo avesso
e furto chapéu e roubo sapatos
e sigo descalço e vou descoberto.
 
(Arménio Vieira)

sábado, 28 de julho de 2012

Sensações enroscadas dentro de um peito metamosfóse. Dificuldades para respirar dentro do caos, amar dentro do caos dos outros e de nós próprios. Existem momentos em que nem a máxima capacidade de fones de ouvido consegume acalmar o barulho das complicações internas. Preciso de um café.
"Faça sua dor dançar" Marisa Monte (O Que Você Quer Saber de Verdade?)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Vamos fazer do mundo uma coisa bonita.  Pintar de branco e de amor, desenhar por cima, descobrir a camada de cinza e transmutar. Bonito. E mudar por dentro, ser de novo até não ser nada mais. Se desfazer e se integrar. Ser sempre de si e do mundo, mais do mundo do que de qualquer outro alguém. Sem pretensão, pressão e com pé descalço.
"Se pedir eu ainda grito
Até de olhos fechados
Eu te acho mais bonito." - Mallu Magalhães (Te acho tão bonito)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Despir o corpo, a começar pelos olhos. Despir os olhos. Despi-los até que os cílios sejam unos e se embrenhem por entre a íris, os buracos negros das suas íris. Dois lindos buracos negros de infinito e plenitude. Deitar o calor dos teus olhos pelas minhas veias e me tornar sua. (Palavra incompleta) nada cabe para te definir. Nem para me fazer viver.
Gosto do gosto do seu lábio cortado, junto ao meu. E do meu peito no teu. E do teu eu no meu. E de nós. "Nós" é bom.
"Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes." - Machado de Assis; Memórias Póstumas de Brás Cubas
"(...) preferi dormir, que é um modo interino de morrer."- Machado de Assis; Memórias Póstumas de Brás Cubas

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Recuso-me a fazer de ti memória. Peço permissão para tal, já que não é algo que dependa unicamente de mim. Quero manter-te viva e pulsante em meu coração, mente e vida. Deixa?
"(...) o desejo de fugir da realidade, de transcender a matéria e integrar-se espiritualmente no cosmo"- Literatura Brasileira - diálogos com outras literaturas e outras linguagens, 4ª edição reformulada, Willian Cereja e Tereza Cochar, Atual Editora, p. 350 (sobre Cruz e Sousa)
Lose her, lose him, lose everything you have (had?). You are losing everything. When you're losing everything, there's nothing you can do about it.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A um ausente


"Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

[...]

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança. 

[...]" - Carlos Drummond de Andrade

domingo, 27 de maio de 2012

Morreu de acidente o meu amor. Não durou ao menos um segundo do infinito que prometera. Do infinito que perdido em quaisquer melodias, brincava de sair vivendo, pelos lugares bonitos do mundo.
Morreu de acidente, de atropelamento, de queda de cavalo, tropeçou ao sair do ônibus e bateu a cabeça no meio-fio do passeio público. 
Morreu de acidente o amor que residia dentro do homem. Deu no jornal. A vizinhança viu, o pessoal do trabalho também. Me olharam de canto. Medo somado a pena, e mágoa. Um toque de reconhecimento.
Não tem cartão pra desejar meus pêsames. Muito menos pra morte de amor. "Vai, eu te encontro já."

O doce suspiro do vento de fora da janela me alcança no ato. É fato. As vezes penso que você vem de mim.
"Anonymous asked: Se apaixonar por você é quase uma missão suicida, eu acho né.
eaiheaoeaihiueahieahuea é bem nessas…" - the dopest ghost
 

sábado, 19 de maio de 2012

Deixa eu dormir nos teus braços. Eu preciso das tuas palavras de conforto. Não há outra no mundo.
A noite vem chegando e a minha tristeza caminhando junto a ela.
Ser pequeno, bem mais pequeno que qualquer coisa do mundo. Ser tão pequeno e tão apertado dentro de si e tão só em sua pequenez. Ser pequeno ao extremo, uma enorme, extensa e volumosa pequenez. Pequeno feito qualquer coisa pouco maior que um próton. Pequena, só é um bom adjetivo quando pronunciado depois do pronome possessivo "minha".

sexta-feira, 11 de maio de 2012

abraçando o ar,
beijando o vento.
eu ando assim
em fragmento.
Se carregue por seu baço.
Não há forma que,
Sucintamente,
Caracterize o imenso, o
grandioso, o
trépido e
incorpóreo amor.
Não há pausa certa que se
Entremeie, por entre risos
distintos,
Que sirva como fonte inspiradora
Para o grande coração
Que habita peitos desalentados
E desmamados e desprecavidos
E depreciados
De sua imensidão desregrada
De coração tácido e periférico
E esférico. Como as rodas matutinas
Da frota maquinária buzinante.
Os corações despreparados.
Não há, não há droga
para esses.
Corações remediados, remendados.
Imaculados
Em suas destrezas de alta
Valorização política.
Cheios de voz e de tédio
Imaculados pelo ócio.
Ambiguos pelo excesso.
Excesso e escasso de amor. 

Nunca nada antes expressou tão perfeitamente a escala de prioridades.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mulher, ah mulher,
Praticaste entre o vinho e o fogo
O andar sóbrio
De semelhante
Enforcada nos teus próprios
Galhos
"Beber a água
do mar azul
dos teus olhos.
Taí uma coisa difícil."
(João Claudio Arendt. In: 
Vera Aguiar, coord. Poesia fora da estante. 
Porto Alegre: Projeto, 2002. v. 2. p. 80)

Faço lijeiro esse poema
De sentimento,
Pra guardar dentro do peito
Grande, a espera
E a esperança vagarosa
Que se alastrava
Pelas visceras do corpo e
Dos olhos que o viram,
Assim de fato,
Pela primeira vez.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Me apego aos olhos. Eles me marcam. Se os olhos são bonitos, muito prazer, meu nome é Isabel.
"Prefiro descobrir aos poucos, pensei. Saborear o mistério. Na quadra seguinte, ela atravessou a rua e sumiu no meio da gente miúda que andava pelo centro. Colorida em meio ao cinzento que predominava ao redor. Olhei para o rosto do porta-retrato: tinha uma luz particular, só dela, e um ar de quem poderia ser o que quisesse na vida.
[...]
Estou relendo o trecho em que o professor Schianberg se ocupa da separação dos amantes. As transitórias e irremediáveis. Ele menciona um maluco norueguês que afundou um navio como oferenda pela volta da amada. O problema é que o navio não era dele, e deu cadeia. Eu afundaria todos os navios nesta noite, Lavínia. Incendiaria o porto. Só para ver o brilho das chamas refletidos nos seus olhos escuros." - Eu Receberia As Piores Notícias Dos Seus Lindos Lábios - Marçal Aquino
Meu coração nu, palpita
Alegre/triste/melancólicamente
Em direção ao vento sul
Das tuas garras destemidas.
Meu coração é pulso calmante
De vida eterna
Sem morte e sem dor.
Sem paz, calor.
De dentro, pulsante
Distante. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

AQUI JAZ UMA INTENSA AGONIA ARISTOTELIANA
Nasceu com o coração aberto,
Escancarado, de peritônio exposto
Para que o mundo visse
Sua face real.
Nasceu sem derme
Que o revestisse,
Pronto para que o mundo
O acertasse em cheio
No alvo principal,
No alvo único.
Nasceu sem medo.
O mundo o matou
Em seu primeiro fólego
Com a pesada mão
Da agonia de ser mundo.
Pois era demais corajoso
E demais verdadeiro
E demais espírito
Para que pudesse existir.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dorme bem meu bem
A gente ainda se encontra
No produto do subconsciente.
Me espera
Me ama
Te quero
Vê se não te perde
Que a gente se encontra
Dorme bem meu bem
Hoje a sua mão me chamou, de leve, provocando um curto-circuito em minhas funções motoras. E nada além do riso frouxo me passou pela face. Tentei ir, seguir pelo caminho reto e curto da felicidade. Mas não seria eu, se não complicasse ao menos um tanto. O muito de tato, que havia no chamado vago feito pelas mãos de dedos longos era uma oração, um encantamento. Mas recusei.
Deixei passar ao largo, tua boca, teu perfume, tua névoa. Fiquei.
Nem sei porque não fui. Nem sei se ainda tem tempo. Nem sei se tudo foi sonho.
É esperar pra ver, meu bem. 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Poema 3x4

"faço pequeno
este sentimento
grande, pra você
guardar num bolso.
te amo, te cuida,
te recorda de mim."

Kalil F.
"Não faz disso, esse drama, essa dor" - Primeiro Andar - Los Hermanos
Faz tempo que os meus pés deixaram de me sustentar. Pairando no vácuo, no espaço, numa terra distante, girando e girando, sem direção, sem mastro, nem leme, nem vela. Sem barco, na sinceridade.
Faz tanto tempo, e eu já nem ouso lembrar do início. Parece que é uma caminhada longa a volta, a ida e até o não sair do lugar. Abandonar essa cadeira rasgada, colocar os pés no chão, parece a velhice morando dentro, das almas acostumadas a mesma vivência, ao mesmo segredo recontado, a mesma música e as mesmas palavras. Sempre o voo dos pássaros acontece por trás da janela fechada.

Deixa a gente ser feliz?
"Só o amor é luz" - Horizonte Distante - Los Hermanos


É a sua intensidade, o que mais me seduz. É tudo tão forte, tão vívido, quando tem você no meio. Deve ser porque eu sou assim, sempre mais perto da calmaria, da falta de riscos e do ácool, das mesmas músicas, dos mesmos erros, do mesmo medo, do intelecto, da teoria. Da mesma angústia tola. Mas é isso que mais me assusta em você também. Parece que em cada meio passo, você vê vinte. Deseja vinte. A falta deles é um turbilhão de coisas, como meus textos sem nexo. Como os parágrafos soltos de meus textos sem nexo.
Não há linearidade em nós. Há um ciclo, imutável e desgastante, que nos prende, um ao outro. Numa infinita volta que vai se quebrando em milhares de pedaçinhos, ao longo do caminho, mas nunca termina.

domingo, 15 de abril de 2012

"Pois a fama, nada mais é, afinal, do que a soma de todos os mal-entendidos que se reúnem em torno de um novo nome." - Rodin - Rainer Maria Rilke
- É todo dia e toda noite assim.


"Eu confio no fluxo natural da vida"
Como posso eu dizer, que confio no fluxo natural da vida, se me imponho regras, normas, horários e regulamentações em tempo integral? Tempo esse, que não existe. O relógio, apenas o relógio existe. Não confio. Se confiasse não seguiria penando por fazer tudo que não gosto. É bem fato, que devia aprender a confiar, mas não confiar é o próprio fluxo natural, não da essência, mas da realidade da vida que encarno.
Quem me disse que confia, foi alguém que gosto muito, mas que não acredito que realmente confie nesse tal fluxo natural. Prendo-me ao relógio e as obrigações, ela também.
Obrigações é um nome que provoca uma angústia no peito só de ouvir.
Tenho mais medo da rotina e da monotonia em que me encontro, do que do amor e olha que tenho um medo tremendo do último. Porque rotina e monotonia podem ter fim, mas se enraizam feito erva daninha, fechando olhos, mãos e coração.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

É, homem. Não vejo os triângulos nas hipotenusas, nem nas forças de tração distribuidas. Vejo apenas sua dor. Lemento muito. A morte é também, uma força de tração.
RECADOS DE MARTE

Transmissão nº09
O gosto das filosofias fisicais

Intertexto

Pequena mosca,
Mosca que anda em jogo vão,
Cortada por entre meios
Brutos, pelas mãos toscas e rudes.

Ah, pequena mosca,
Quem dera tu, fosse como eu.
Quem dera gozasse os prazeres
Da decreptude humana.

Quem dera mosca,
Tu gozasse o tédio e a angústia.
Tu amasse os homens que,
No entanto,
Lhe desprezam.

E que eu, mosca,
Tivesse as tuas asas simétricas
E o teu jogo animal.

E tu, mosca
Cortasse os olhos e as asas
Do jogo bruto
Da vida.
"In the heart of devastation
She's a natural disaster" - Last of the american girls - Green Day
"Take the time to get to know me
If you want me why can't you just show me?
We're always on this roller coaster" Cake - Never There

terça-feira, 10 de abril de 2012

O tempo.
O tempo é sábio.
O tempo é sabiá.
O tempo é o tempo e o todo.
O tempo é a catástrofe do mundo.
O tempo é o tempo todo.
O tempo é o mesmo tempo do modo.
O tempo é o mesmo tempo do tempo.
O tempo é o temperamento
Do tempo que passa no ninho. 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

domingo, 8 de abril de 2012

Desperate. Desperate about everything

"E por fim, quem muito se demora no mundo, como eu, termina por se convencer que no mundo não há coisa ou ser inútil" - A Cidade e As Serras - Eça de Queirós
"Na natureza nunca eu descobrira um contorno feio ou repetido! Nunca duas folhas de hera, que, na verdura ou recorte, se assemelhassem! Na cidade pelo contrário, cada casa se repete servilmente a outra casa; todas as faces reproduzem a mesma indiferença ou a mesma inquietação; as ideias têm todas o mesmo valor, o mesmo cunho, a mesma forma, como as libras; e até o que há mais pessoal e íntimo, a ilusão, é em todos idêntica, e todos a respiram, e todos se perdem nela como no mesmo nevoeiro... a mesmice" - A Cidade e As Serras - Eça de Queirós
As despedidas são sempre cheias de portas fechadas, e de um amor contido. Que não seja pelo que se despede é pelo outro, que espera escondido, em uma esquina qualquer. Há despedida numa nota solta num violão de Baden, é aquela nota contida, em que mora um mundo dentro. Onde se morre um mundo dentro, de um toque calado, de almas. As despedidas só são bonitas, pelo desejo da volta. É nesse ponto, que as despedidas são mais bonitas que os encontros, pois estão fadadas ao desfecho, e a esperança vã da continuação do roteiro. Que nunca termina, afinal.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Caçando suas mãos com os dedos no escuro artifícial, seus lábios com os meus no ar. Parece tão perto, mas fica tão longe.
 RECADOS DE MARTE


Transmissão nº14
P.S.: Quero copiar todos os seus versos, e estampá-los em minha carne, marcá-los como um todo, em minha alma sênil.

Such a beautiful lady


quinta-feira, 5 de abril de 2012



Me dá um medo assim, de revelar esses segredos intrincados, nem tão secretos, mas nunca antes revelados. Fruto da persuasão, da contradição. Nas páginas de papel reciclado, me dá um medo rasgado, de descobrir o que é seu. E me dá um medo maior, de descobrir o que é meu, nas minhas linhas perdidas. Boa sorte para nós, nessa grande aventura de final de semana.

domingo, 1 de abril de 2012

Cabeça, pulsante, ululante
Fruto de tudo, de tudo que vê, ouve,
Sente.
Cabeça. Fruto das formas e cores
Não para, não cessa
Suas ideias e pretensões.
Cabeça, minha cabeça
Passa, pensa e prosa
O mundo.

sábado, 31 de março de 2012


Nunca tive medo
De saudade calada
Ou de morrer cedo.
A minha vida se resume
Em não resumir nada
Deitar a manhã no costume dos olhos fechados
E dormí-los, embalá-los em sono baixo
Qualquer que seja a noite azul
Namorados, namorados,
São uns tolos
Que se beijam e se invejam,
Que se guardam e se rezam,
Mas se amam
Na regra geral.
Namorados são uns tolos
Uns caolhos, uns bêbados.
Uns felizes.
Mas são lindos, os namorados
Pois sendo um do outro
São do mundo.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Assim se fez. Quebrou-se o abismo do silêncio. Encurtaram-se as fronteiras dos braços e aproximaram-se os corações desavisados. No pesado instante, longamente vivenciado, perderam-se as lágrimas e o ódio contido. O que restava era o bom, o sábio, o puro. O belo.
Restavam os olhos e as memórias pálidas, calcadas de tempo. Cinco, dois, dez, trezentos meses. Tanto faz. Não há de se contar pelos dias ou pelas horas, que dirá pelos meses, o tempo interno, o tempo que não necessita de tempo algum. No mesmo lugar, com uma outra despedida. Afinal, alguém disse que deve-se viver um dia sempre diferente ao outro. Então, vivamos!

terça-feira, 27 de março de 2012

RECADOS DE MARTE

Transmissão nº 8
Se perder no mundo é só uma questão de perspectiva

domingo, 25 de março de 2012

RECADOS DE MARTE

Transmissão nº 26
Neste pequeno planeta que nada vale no mundo atormenta-me sinceramente a sua falta
Humor: sem propósitos
O verão acabou fazem quatro dias e eu, só percebi agora. Sem passeio e sem paixão. Com muito sorvete e tédio. Felicidades ocasionais, uma pequena experimentação de amor. Um teste aqui, outro acola. Só pra ver se sou eu que ainda respiro. Nada conclusivo, nem uma pequena amostra de mim, nem dos outros.
Saio desse verão diferente do último, embora isso não seja tão significativo. Espero desse outono pálido, uma brisa de frio e um vento na nuca. É assim que se faz.

Eu me apego as estações do ano...