sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Três. Sentados junto a calçada crua de cimento e cal. Olhares fixos em caixas extremamente longes dali. Coisas internas mais que extremas.
Focar-se no ponto azul longínquo, no meio do infinito azul, mão significa necessariamente que se esteja olhando qualquer coisa.
Nenuma pele toca outra, nenhum olhar ousa desviar-se de seu ponto fixo, mas, talvez pelo calor emanado pelos corpos, era como se estivessem ligados, cobertos pelo mesmo perfume insípido feito do que podia se chamar vida. Em conjunto. Ou mesmo não.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quero dançar o som da melodia que sai da tua boca e dá à tua boca a essência definitiva da coisa mais bela. E rodar em movimento de saia ampla, feito o infinito, nos quadris. Perder as unhas na pele, cravadas pouco a pouco a suplicar o santo nome. E os pés, que se afastam progressivamente do chão, trilham a trajetória da dança lenta, fluida, magnética, de globos oculares castanhos de passagem pelo mundo. Rodando, rodando, rodando, em um movimento kamikase que busca luz nos princípios mais estranhos. Na escuridão das faces cansadas da procura ininterrupta pela única verdade contida nos corpos terrenos: teu sangue sobre-humano, que conta aos anjos os segredos do céu. E conta a mim os segredos de dentro do homem, de dentro de ti, homem-humano-sobre-anjo. A luz que busca outra luz corrente, em outra face recorrente, em outro ser acorrentado. A luz que emana por princípio interno, é antes tocada, ativada, pela luz do outro. E dessa forma se faz corpo-celeste. E fonte de calor. Da noite escura do sorriso de lua crescente.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"I go crazy cause here isn't where I wanna be
And satisfaction feels like a distant memory
And I can't help myself,
(...)
Well, are you mine?" - Artic Monkeys - R U Mine?
 

terça-feira, 21 de agosto de 2012


"Sobre o oceano

Sobre o oceano, balançam as pernas
Riem da infelicidade, recebem-na com
Carinho, aguardam uma mudança

As águas calmas, mas profundas
Dançam sob seus pés, enquanto
Acenam aos barcos que distante vão

As estacas compridas sequer sustentam
O vento salgado e úmido que acerta
Lava suas feridas, refresca-lhes a alma

Buscam, dali de cima, um destino
Um rumo, um caminho que lhes leve
A um lugar um pouco melhor

Creem em si e no mar, em nada mais
Desafiam a morte e a vida, pois
Não creem em infelicidade maior

Fecham os olhos, gritam palavras
Fazem as dores serem levadas pelo ar
Sobre o oceano, balançam as pernas" - Guilherme C. Dias
Sobre o primeiro desejo, a primeira luz do dia, a coisa mais bela, azul e amarelo fundidos com nuances de branco puro, deixo agora a carta de despedida de meus prazeres. Confesso minhas angústias trancadas e a incapacidade criativa, limitada pela condilção de tristeza e amargura, tão incomuns em outros tempo, tão presentes no exato momento. Prezado seja o amor e as conexões da alma, prezada seja a falta que cala as lágrimas impuras de pura dor constante.
A singeleza do som do bandolim na música, não causa comoção real. É apenas trilha sonora dos apertos no peito e da falta de uma questão primordial que dê propósito.
Não se completam mais os corpos, nem os braços, só a água quente é conforto propício e posssivelmente palpável, para quem se esqueceu ou nunca soube o que fazer da existência.
Não, não há culpados. Nada além de sentimentos extremamente dramatizados, emocionalmente incapazes de se conterem dentro de si,
Não há nada nas mãos, quanto mais dentro do peito frio, que contraria as leis biológicas até então confirmadas. Não há capacidade de manter temperatura constante do corpo e de aquecer internamente o frio que emana de dentro pra fora.
Não há nada entre os pulmões. Nada inteiro entre os pulmões. Os próprios pulmões começam a se esvair no ar rarefeito.
Quero me desmanchar no ar.

sábado, 18 de agosto de 2012

QUIPROCÓ
Há uma torneira sempre a dar horas
há um relógio a pingar no lavabos
há um candelabro que morde na isca
há um descalabro de peixe no tecto.

Há um boticário pronto para a guerra
há um soldado vendendo remédios
há um veneno (tão mau) que não mata
há um antídoto para o suicído de um poeta.

Senhor, Senhor, que digo eu (?)
que ando vestido pelo avesso
e furto chapéu e roubo sapatos
e sigo descalço e vou descoberto.
 
(Arménio Vieira)