domingo, 30 de dezembro de 2012

Prefiro assim.
Sem roupa, sem maquiagem,
Sem peso, de cabelo solto.
Nua, nua, nua, nua, nua, nua,
Em todas as instâncias do amor.

18/09/12 escrito no canto inferior direito de uma prova bimestral de física

O amor é um pedaço de terra, comprado a muito custo, num pouco desértico de mundo. Sem água, nem luz, nem nitrogênio, uma planta miúda nasceu.
Os ventos de dezembro não trazem nada, porque dezembro não tem ventos, tem mormaço. Tem Bukowski e falta de amor próprio. Dezembro carrega uma ironia particular, um famigerado e repetitivo ar de esperança, de fim, de vitória ou de perda de tempo total. De porre.
Dezembro carrega em si um ar de urgência, de pressa para acabar, de pressa pra ir embora e inserir um ponto final na história de um ano melancolicamente real. Impossível, inacreditável. Dezembro é a lembrança do meu fracasso E da minha amargura. É a lembrança de não ser lembrada.
Dezembro é a destituição dos fatos. Dezembro é o fim. Dezembro é só mais uma contagem temporal inútil. Só um mês e mais nada.
Se agosto é o mês do cachorro louco, dezembro é o mês do homem quebrado.
Dezembro é o fim para mim.
É quando os restos mortais daquela flor lilás que nós achamos juntos na calçada se esfacelam por acidente em meu colo.
Dezembro é o mês de entregar os pontos, o mês do cansaço e do esboço. Dezembro é a hora de pensar que nada valeu a pena, que foi tudo uma desgraça. De perceber que você caminha sozinho.
Dezembro é o mês da autopiedade, do remorso, da inquietação, da falta de perspectiva.
Dezembro é o mês do ócio e do ósculo descoberto.
Temo janeiro. E o dezembro que vem.
Porque dezembro ainda é a representação de futuro.
Dezembro é a morte prematura de algo que não se permite acabar.
Dezembro é imperceptível. Rápido, de uma forma contraditoriamente arrastada.
Dezembro é o próprio porre. Ganho aos sopetões, em goles para engasgar, com ânsia, feito água pra matar sede.
Dezembro é uma necessidade corrupta de provar a si mesmo sua capacidade de fatigar o outro e a si.
Dezembro é um pé no saco, uma vertigem, uma impotência de 31 dias.
Dezembro é a crueldade da repetição e da ausência do novo.
Dezembro é tudo que desprezo nos outros (é tudo que desprezo em mim).
Dezembro é o turbilhão, a raspa do tacho, a angústia prevista.
Dezembro é a necessidade do fim que nunca vem.
Dezembro é uma nuvem de poeira diretamente nos meus olhos.
Dezembro é o esclarecimento dos erros e a escancaração dos mesmos. Dezembro é a descoberta bruta.
Dezembro é um soco no ouvido.
Dezembro é uma flor negra e um fruto podre de uma vida sem grandes feitos.
Dezembro sou eu e ninguém mais.
Dezembro é o fim que nunca chega do filme que te angustia pela dor de cabeça que te provoca.
Dezembro é a penitência total.
Dezembro é um semi amar. Dezembro é o caos, o terror, a poesia.
Dezembro é uma falsidade sem tamanho, para suprir as iposições do superego.
Dezembro é a vontade de se jogar de um prédio de 90 andares, esperando que alguém milagrosamente te salve antes de cair. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ansio pela vida de nunca terei. Pelos tempos vindouros que, numa determinada esquina ou campo aberto, se esclarecerão como inexistentes, como fruto onírico da infância, do desejo capitalista, das revistas de moda com lindos anúncios publicitários próximos ao mar mais azul que eu já (não) vi. Espero secretamente (tão secretamente que nem me dava conta até então) por qualquer coisa impossível, qualquer coisa que, mesmo que seja real, não terá o sabor que agrego a ela agora.  Qualquer coisa inexistente, inatingível. Tomo consciência de sua virtude de sonho, mas, por uma força ainda inesclarecida, não há maneira de me desvenciliar do propósito de alcançar o sonho, que não tem forma definida, mas tem vontade. Vontade febril de existir.