quarta-feira, 27 de julho de 2011

"As pessoas estão com dificuldade de viver no mundo moderno" - Maurício Ricardo

Filosofando sobre tampinhas

Não sou muito apegada ao passado, mas acho que, inconscientemente, arranjei um modo de me apegar as pequenas lembranças. Coleciono coisas. Papéis de carta, chaveiros, ingressos de cinema, e a mais nova aquisição, tampinhas de garrafa. Recentemente, percebi que coleciono memórias. É engraçado demorar tanto para perceber uma coisa tão óbvia, não? Mais do que ingressos de cinema, papéis de carta e até tampinhas de garrafa, coleciono memórias. Talvez o esquecimento não muito óbvio das datas, dos números exatos, dos compromissos, dos nomes, tenha confundido essa percepção, mas o fato é, que as palavras, as letras, os gestos, os cenários, não se misturam no bolo de massa cerebral com todo o resto. São colecionados como as tampinhas. Separando as raras das ordinárias. Particularmente, acho que meu gosto por memórias tem uma pré-disposição a querer as memórias raras. Não porque são boas (na verdade uma considerável parte não é), mas são diferentes, têm suas particularidades únicas, elas nunca se repetem. Na verdade, penso que todas as memórias são raras, nada acontece da mesma maneira duas vezes. Ou, em suas particularidades, as memórias raras sejam as plenamente felizes. As que fazem sorrisos brotarem na face só de re-imaginar. Ou as de dor tão impossíveis, que não se podem ser esquecidas. Não são tão fáceis de conseguir como parece. São como tampinhas sem rótulo impresso. Quase impossíveis de achar hoje em dia. Mas a grande parte delas, boas ou ruins, não somem, não são simplesmente esquecidas. Elas permanecem perenes, por grandes períodos de tempo, depois, vão se separando aos poucos, ficam só as marcantes. Não que eu não as esqueça, também não faço questão de tampinhas incrivelmente destroçadas, enterradas ou cimentadas. As vezes as muito velhas, enferrujadas ou diferente de algum modo, são agradáveis de ter. De fato, tapinhas são como memórias: intrigantes e estão em todos os lugares. Só precisam ser observadas com um olhar diferente, para que tenham valor.


"Um homem nunca entra no mesmo rio duas vezes" - Heráclito