quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Poema Suicída

Veio nas entrelinhas
Se enlaçou em meu vestido
Puxou a barra da saia
E foi embora
Levou a rosa e as opções finais
Pulou da janela mais alta
Com todas as palavras do mundo
Lavou as mãos de cinza
E voou no alto, planou nas asas próprias
Fingiu que era pássaro novo
Tirou os dedos do chão, para mergulhar no ar
E antes de encostar suavemente no plano baixo
Sorriu
Para ver de cima a queda de si mesmo.
Ainda era vivo, cheio de tinta
Quem deitava era a folha, a matéria, tudo o que nunca fora.
Morreu na quarta linha do primeiro parágrafo.
Ou no quarto verso da primeira estrofe.
Agora tanto faz.


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." - Fernando Pessoa