domingo, 30 de setembro de 2012

Os cânticos religiosos proferidos do outro lado da janela. Prostrada na cama, entre cobertas, sentindo-me como um corpo morto, velado em novena, como embalado por um sono doce de infância. De infância de acompanhar avó na reza e de entoar ladainha e terço. Há tempos não coloco um pé na igreja. Questão de identificação e de questionamento. Nada melhor que a doença para fornecer inspiração.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

"É só pensar em você
Que muda o dia
Minha alegria dá pra ver
Não dá pra esconder" - Chico César
Santa chuva
Passa pelo alto das mangueiras
E dos ipês amarelos
Voa em gotas de vento
Partículas cósmicas
De uma rutilância
Própria
Cai nos jacarandas
E na minha face sonolenta
Volta!

terça-feira, 11 de setembro de 2012

"Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular" - Marisa Monte (Infinito Particular)
Manter a felicidade é uma coisa difícil.

domingo, 9 de setembro de 2012

"E surgiu-lhe então uma ideia bem clara da sua própria força e do seu próprio valor.
Sorriu.
E no seu sorriso já havia garras." - Aluísio Azevedo  (O Cortiço)

sábado, 8 de setembro de 2012

06/07/12

97 km/h. Poucas palavras ditas ao acaso. O homem grande, que quase não coube dentro do táxi, parecia feliz ou, no mínimo, satisfeito. Feliz em retornar ao país que o acolhera a exatamente 41 anos e 364 dias, para que agora pudesse preparar a volta definitiva para a sua terra cansada de guerras.
A mulher e a menina no banco traseiro se acanhavam com o quase estranho conhecidíssimo homem. Tudo em rebuliço por dentro.
Gostaria de ter aberto meu peito e minha vida mais tardiamente. Esperado calmamente que uma espécie de mão divina me guiasse até um peito qualquer e que assim, sem pressa, nem pressão, me fisesse viva. E me ligasse aos poucos ao outro. Para que fosse menos incisivo, mais maduro e menos criticado. *suspiro*

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

domingo, 2 de setembro de 2012

"You aint got no shoes,
But you've got the blues
And that's enough to hit the road" - Mallu Magalhães (You know you've got)
Seis dias tristes por um feliz. Uma eternidade por uma fração de segundos. E você bem ali do lado, na amargura que corrói.

sábado, 1 de setembro de 2012



O primeiro Degas, o primeiro Monet, o primeiro Renoir, o primeiro Van Gogh, o primeiro Cézanne, o primeiro Gauguin, o primeiro Lautrec, é coisa memorável. Respirar o mesmo ar refrigerado que as telas e as tintas, craqueladas ou não, dos amados estudados, é dar nova vida aos gênios das pinturas conservadas pelo amor do tempo e dos curadores de exposições. Olhar Gabrielle e Jane de traços suaves e pele iluminada, a brincar com seus bichos de madeira, chega ao ponto do espanto de descobrir a existência dos mesmos, pela primeira vez. As bailarinas azuis nos bastidores, numa semi-dança clássica, muito além da termosfera.  As ninfeias.  Sim, as ninfeias. As ninfeias matizadas sob a pequena ponte arroxeada do jardim de Giverny. As ninfeias feito ninfas. Nos sonhos materializados em misturas de cores na tela, intensa represetação dos reflexos da luz, e uma impressão do nascer do sol.