segunda-feira, 28 de novembro de 2011

19:19

Não era o vento frio que arrepiava os pelos do braço. O vento, como elemento natural, era só um artifício barato pra se desculpar pela luz trêmula que emanava do corpo.
Era o grito agonizante que ecoava nas notas musicais. Era grito pedinte, suplicante. Quente, rouco. Era o grito medonho e tosco. Fosco de todo. O grito era o provocador, o arrepiador. Cordas vibrantes elucidadas, hilariantes. Descompromissadas com a eternidade. As cordas vibravam sons indistinguíveis e complexos ao mesmo tempo. Vivas.
Ou eram mortas? Ah, é coisa que ninguém pode saber.
É uma linha tênue a que separa a vida da morte e ela é quase imperseptível de todo. Só se distingue os vivos dos mortos nos exames de autópsia. E nem assim. A morte interna é estranha ao ser que a sofre e se inicía muito antes da morte física. É um processo de intermináveis anos saudosos e solítários. Solitários, pois todo ser é um individual, sozinho. Isolado em suas particularidades ávidas de exclusão.
Assim como todo grito excluso de razão. Gritos que vêm do estômago, das entranhas e das ausências dos passeios de verão. 

3 comentários:

  1. o problema é que existem muito, mas muito mais vivos que mortos, e esse número tende a aumentar, o que faz com que os vivos tendam a zero nessa proporção. E os vivos que restam se unem aos mortos, que na sua maioria são mais inteligentes que os vivos, que por sua vez se utilizam menos da razão que os mortos, isso por que talvez os mortos são mais que os vivos, talvez não, talvez isso esteja muito confuso... e que vontade de te chamar pra um passeio de verão, são das poucas coisas que valem a pena na vida, mesmo em guarulhos...

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  2. acho que os mortos fazem parte de massa, e como massa, não são os mais inteligentes. É claro que alguns mortos são sim, realmente mais inteligentes que os vivos e que os próprios mortos, mas já é uma inteligência grande o fato de conseguir se manter vivo. E a ausência de razão talvez seja a chave pra tudo isso e um potencial destruidor de tudo também. Acho que é isso, a razão (ou falta dela) é a criadora e destruidora das coisas do mundo. As vezes fico pensando se esses muito mortos um dia podem voltar a vida, não como zumbis, mas como vivos reais... Bom, o verão está quase ai, acho que é uma das estações que mais gosto, não sei se pelas férias ou pelo calor, ou pelos dois, e é uma ótima oportunidade para passeios, mesmo em guarulhos (:

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  3. Esses mortos nunca morreram, quiçá foram esquecidos. A maioria vive. Somos um bando de vivos governados pelas idéias dos mortos, ouvi isso numa aula um dia; e é verdade. Os mortos podem não ser os mais inteligentes, mas já não cometem burrices, e na imaculação do silêncio perpetuam as coisas boas que disseram, afinal só falo dos que disseram coisas boas, do resto, não ligo, ninguém liga, (exceto Jim Morrison, que disse muita bobagem mas todos o amamos, não?). Você falou da razão, sabe quando a sociologia virou ciência no Brasil? Quando a razão foi utilizada pela lógica, pelo método, e então passou a ser científica de fato, a razão, associada ao método, virou certeza, ciência, e a sociologia foi utilizada para influir no realidade, de modo lógico, preciso. Enfim, sabe por que gosto do verão? Por que posso usar camiseta e bermuda, andar e me sentir bem, por que por mais que seja tarde ainda tem sol, e isso, eu não sei por que, é bom, muito bom!

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