domingo, 5 de junho de 2011

Ensaio sobre o sonho

"Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança." - Pedra Filosofal - António Gedeão


"Mas sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
E o mundo é perfeito " - Sonho de uma Flauta - O Teatro Mágico



E a noite dorme, o céu vem me acordar, enquanto me despeço de teus lábios quentes de imagem e das escadas de fumaça no ar de mentira. Chama a vida que parece real, mas de real nada tem.
"É tudo quanto sinto um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto." - Luís Vaz de Camões
Não vale nada o meu diploma, o meu sucesso, minha gramática regular, meus floreios. De nada vale minha cantoria coreografada, meu suor sem lágrimas, meu estudo e minha dor, de nada vale a minha cor e a minha moeda, minha incredulidade e minha vontade de saber, perto do tanto que posso me levar a ser.

sábado, 4 de junho de 2011





Preciso do que me admite. Do que me sustenta e guarda.
Desejo apenas um concerto do mundo e uma volta de estrada.
Desejo a amargura finda e o calor renovado.
Respiração e a rima certa. "Areia pra passar .."
E se o tempo parasse? E se tudo acabasse? E se um fim tive (finalmente) a trajetória desses anos? Não seria mais bonito que se acabasse enquanto é belo e eterno, do que se só restassem as cinzas de um fim morte mal-acabada? É a voz da estafa que me grita.
Espero o tempo que passa, e não sinto mais os pés sobre a água corrente.
Já nem mais o cheiro, o gosto, nem nada.
O toque é sem prumo, sem pompa, sem razão.
A pele é gasta, como as paredes das ruas maltratadas. Sem oxigênio, sem atmosfera, longe.
Momento eterno das lembranças que não tive, da saudade sem destino e só.
Assim como veio, passa. É um destino transitório essa verdade momentânea da falta do que nunca se teve.

Soneto -

Ponho-me nos teus lúcidos braços ,
Nos teus olhos estranhos me inebrio.
Faz ficar atrás da vida de passos
Do instante tamanho e sombrio.

No presente passado da penúria
Não se possuir o que do teu é necessário.
No intento extremo, fúria,
Um instante de aurora atrasado.

Já eras tanto antes de ser eterno
Já eras plácido antes de ser belo
Já não sabia aquilo que se fazia

E no infundado mundo moderno
Se ajustava, desmanchava o elo
Nas águas de amor subia.