segunda-feira, 16 de maio de 2011

Você era eu e eu era você
Eramos dois e um só
Numa dança eterna
E num instante eram
Os fundos de teus olhos Oceanos
Eu mergulhava e me afogava
E você me ensinava a nadar
Sentia as nuvens nas pontas descoladas dos dedos
E os inumeros poros de calor

Não era o tempo que passava
Não eram horas o que acabava
Era uma essência infinita de não ser ninguém
E ser tudo, ser eterno, ser pra sempre
Ser o que se acaba
Tenho mania de achar que sei das coisas. De querer entender tudo e parecer algo que não sou. Mas no fim, não sei de nada. E afinal, quem sabe alguma coisa?
Todos fazemos parte de algo, sabemos um fragmento de alguma coisa só nossa. Temos um conhecimento único. Mas tudo? É uma utopia inalcançável.
E conhecimento é algo que se adquire. Não dá pra nascer com. Quer dizer, até dá. Mas esse assunto já é outro.
A questão é que a gente se cobra demais.
Sem querer dar uma de terapeuta, psicóloga, nem nada, acho que querer alcançar a perfeição total e sabedoria infinita é desnecessário.
Mas esses conceitos são tão pertencentes a nossa cultura, tão enraizados, ideais de beleza, inteligência, capital monetário, social, etc, etc, etc, que fica difícil não buscar por uma perfeição o tempo todo.
Acontece que o mundo é o mundo. As pessoas são as pessoas e mesmo quem não sabe tudo (porque ninguém sabe) vai julgando todo o resto. Aderindo a suas verdades particulares como únicas. Mas não é bem assim. Verdade é mutável, uma questão de perspectiva.
A gente vai aprendendo a mentir e esquecer que todo mundo também faz isso. Esquece que as nossas maiores mentiras são aquelas que fazemos para nós mesmos.
Vamos buscando essa sede de conhecimento para compensar aquilo que não entendemos em nós mesmos.
Mas não é minha vontade, é claro, dizer que conhecimento é algo ruim. Pelo contrário, é lindo.
É essa busca por conhecimento que gerou o mundo. Do contrário ainda seriamos hominídeos nômades em busca de fogo. Ou camponeses submissos a Igreja Católica numa eterna Idade Média aderindo para sempre o razão de todas as dúvidas: "porque Deus quis".
Conhecimento é maravilhoso, mas é melhor quando não é "de graça", quando não é banalizado, nem se torna obsessão. Quando não é forçado, quando é sabedoria.
Sabedoria, isso é eterno.
Conhecimento deve ser buscado todos os dias, nas ações, nas formas. Só não é bela a cobrança. É também desnecessária por sinal.
Bonita é a busca que não se faz de propósito. Simplesmente acontece. É ela por si só. E é tão mais bonita que chega quase a perfeição, não pelo produto, mas pela reação, porque é natural, espontânea. Já vem com a beleza dentro de si.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

"We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?" - Pink Floyd

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Talvez eu finja estar feliz quando não estou. Talvez eu diga que está tudo bem quando na verdade, não está nada bem. Só porque talvez seja mais fácil assim.
É muito mais bonito ser feliz do que estar triste. E se alguém me perguntar "Está tudo bem?" Ainda vou responder um ilegítimo "Tudo ótimo". E o porquê, é uma droga.
E só que um sorriso singelo é muito mais aceitável, muito mais fácil de lidar do que lágrimas manchadas de rímel. E eu não quero lidar com elas. Não agora.
Das mentiras, a maior delas é a minha para mim mesma, aquela pra justificar as coisas. Mas as vezes as coisas, simplesmente não podem ser justificadas. As vezes não está tudo bem e é só isso.

sábado, 30 de abril de 2011

Ardendo



Em chamas. Tudo que via era vermelho. Laranja, fogo.

Queimava por dentro, num passar de segundos empoeirados.
Como no espaço, um infinito sem som. Sem sentidos.
Queimava por fora, derretia-se todo o ser.
Fumaça.
Sem vento, sem oxigênio, sem atmosfera. No Breathe.
Era isso, apenas isso. Instantes passados longos e curtos, distantes e contínuos. Paradas respiratórias por obrigação. Fim? Não tinha fim. Nem começo, ou meio. Era uma coisa só. Apenas chamas, fogo. Just fire again.
Não existia um fragmento sequer. Quanto de nada se pudesse ver.
Nada que se pudesse fazer. Apenas esperar que a chama de carne se resumisse a cinzas. Como os segundos empoeirados no Espaço desconhecido.
Nem bom nem ruim.



Não se via mais nada. Nem som, nem parte, nem começo, nem final. Apenas a escuridão.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Cavaleiro Errante

Cavaleiro errante, por entre as ideias permeando

Vai passando, desfazendo, agrupando.

Cavaleiro sem cavalo ou cela

Errante sem donzela bela.

Em natura vai brilhando,

Entre os bosques de lamúria retumbando.

Vai buscando no presente o futuro adiantado

Errante cavaleiro iluminado.

Vai tecendo entre as teias seus enlaços,

Caminhando com palavras, pés descalços.

Transportando seu saber de outros mundos

Em dois olhos de magia, poços fundos.



15 de abril de 2011

Para Pedro Semente.
Já eras minha antes de ser tua. Mas fui, sem pressa. E antes de te perceber, estavas tomada.
Ironia minha que flui de meus lábios como perfume.
Perfume ácido, sarcástico, perfume insípido, incolor.
De velhos tempos recriada, transmutada.
De noites alvas turvas. Lembranças de memórias repetidas. Trechos perdidos no escuro.
Fins de céu, de estrelas.
Não chega discreta. Não mostra secreta, nem andas ereta.

Estavas lá como um presente, a quem não se dá: se estende.
Sinuosa ironia doce.
Como água amarga, fel. Pautada de sorrisos singularizados.
De formas indomadas, sem gosto, sem sal.
E não és nem chave nem fechadura. Nem cadeado nem portão.
És ponte, passagem, atalho, desvio. És pretexto, escapatória, escapulário.
Parte que se excede sem demora, sem vista. Pretensiosa, presente. Invariavelmente descrente. Transitória de estado. Uma epopéia sem Hulisses, sem Vasco da gama. Só em essência.
E não és nada, só as falas amargas de um tempo sem beneficiários. És produto e criação. És tu e ponto.
Fim.
Já não eras mais nada.