quarta-feira, 10 de julho de 2013

É difícil voltar a escrever


Amor tem razão.  Desenvolvemos um sentimento afetivo de carência e seretonina, perfeito pra ganhar e dar confete. Depois de algum tempo vivendo você percebe que não é falsidade ou hipocrisia. Amor é primeiramente real. Em seguida, é necessário. Para suprir desejos hormonais e o espaço que o seu corpo forma na cama? A curva do seu pescoço que anseia por ser preenchida no laço de um abraço? A saudade e a nostalgia, a solidão e todas as outras desculpas? Também. 
O meu problema é que eu sinto. Se não sentisse, toda a vida seria mais fácil. A eternidade seria paz. O silêncio, saudade e meu coração, ainda um músculo.
O nosso problema e que nos culpamos os órgãos errados. Melhor, o nosso problema é que nós culpamos. 

domingo, 7 de abril de 2013

Quando os teus olhos cansados
Encontram o chão de azulejos brancos
Na carteira fria,
Quando teus sorrisos se escondem
Por trás da máscara de antipatia,
Por trás da máscara de mistério que te rege,
Quando a sua mocidade perde o viço
Quando suas pernas dobram e só pensa no melancólico violão de um certo Francisco,
Meus braços se abrem
E mentalmente te afago,
Mentalmente te chamo:
Vem cá, larga essa marra.
Abre o teu peito
Que eu prometo que te curo amanhã.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Coleção de poemas suicidas #1

Pensei em andar para cá
Pensei em votar para lá
Pensei em ampliar a exumação desse cadáver
Pensei em chamar o pensamento
De estúpido
O anjo de mau
Pensei em arrancar as unhas
E sangrar pelas mãos

domingo, 20 de janeiro de 2013

Pela grande janela de vidro entra a luz crepuscular. O sono persiste como pano de fundo para os acontecimentos internos. Como se tivesse 93 anos e tomasse consciência de que a morte se apoderava das carnes que habitava, uma singela e solitária lágrima escorreu pelo canto direito do rosto, diretamente para o travesseiro. Uma lágrima nostálgica pelo que se perdia.
Aquilo também era um tipo de morte. Um tipo de morte muito severa, muito passiva. Um tipo de morte a que não se pode sentir ódio, pois é feita parte vital de um ciclo humano. Um tipo de morte fruto de um descuido casual, cujos resultados não podem ser escolhidos ou negados.  Entende-la? Não, não se entende, mas se aceita, com condição passiva e resignada o que acontece nas entranhas de um corpo despreparado para vida e para a criação da mesma.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Prefiro assim.
Sem roupa, sem maquiagem,
Sem peso, de cabelo solto.
Nua, nua, nua, nua, nua, nua,
Em todas as instâncias do amor.

18/09/12 escrito no canto inferior direito de uma prova bimestral de física

O amor é um pedaço de terra, comprado a muito custo, num pouco desértico de mundo. Sem água, nem luz, nem nitrogênio, uma planta miúda nasceu.
Os ventos de dezembro não trazem nada, porque dezembro não tem ventos, tem mormaço. Tem Bukowski e falta de amor próprio. Dezembro carrega uma ironia particular, um famigerado e repetitivo ar de esperança, de fim, de vitória ou de perda de tempo total. De porre.
Dezembro carrega em si um ar de urgência, de pressa para acabar, de pressa pra ir embora e inserir um ponto final na história de um ano melancolicamente real. Impossível, inacreditável. Dezembro é a lembrança do meu fracasso E da minha amargura. É a lembrança de não ser lembrada.
Dezembro é a destituição dos fatos. Dezembro é o fim. Dezembro é só mais uma contagem temporal inútil. Só um mês e mais nada.
Se agosto é o mês do cachorro louco, dezembro é o mês do homem quebrado.
Dezembro é o fim para mim.
É quando os restos mortais daquela flor lilás que nós achamos juntos na calçada se esfacelam por acidente em meu colo.
Dezembro é o mês de entregar os pontos, o mês do cansaço e do esboço. Dezembro é a hora de pensar que nada valeu a pena, que foi tudo uma desgraça. De perceber que você caminha sozinho.
Dezembro é o mês da autopiedade, do remorso, da inquietação, da falta de perspectiva.
Dezembro é o mês do ócio e do ósculo descoberto.
Temo janeiro. E o dezembro que vem.
Porque dezembro ainda é a representação de futuro.
Dezembro é a morte prematura de algo que não se permite acabar.
Dezembro é imperceptível. Rápido, de uma forma contraditoriamente arrastada.
Dezembro é o próprio porre. Ganho aos sopetões, em goles para engasgar, com ânsia, feito água pra matar sede.
Dezembro é uma necessidade corrupta de provar a si mesmo sua capacidade de fatigar o outro e a si.
Dezembro é um pé no saco, uma vertigem, uma impotência de 31 dias.
Dezembro é a crueldade da repetição e da ausência do novo.
Dezembro é tudo que desprezo nos outros (é tudo que desprezo em mim).
Dezembro é o turbilhão, a raspa do tacho, a angústia prevista.
Dezembro é a necessidade do fim que nunca vem.
Dezembro é uma nuvem de poeira diretamente nos meus olhos.
Dezembro é o esclarecimento dos erros e a escancaração dos mesmos. Dezembro é a descoberta bruta.
Dezembro é um soco no ouvido.
Dezembro é uma flor negra e um fruto podre de uma vida sem grandes feitos.
Dezembro sou eu e ninguém mais.
Dezembro é o fim que nunca chega do filme que te angustia pela dor de cabeça que te provoca.
Dezembro é a penitência total.
Dezembro é um semi amar. Dezembro é o caos, o terror, a poesia.
Dezembro é uma falsidade sem tamanho, para suprir as iposições do superego.
Dezembro é a vontade de se jogar de um prédio de 90 andares, esperando que alguém milagrosamente te salve antes de cair.