domingo, 11 de setembro de 2011

Um diz sim, o outro não. E um terceiro diz talvez. O próprio não diz nada, só observa, estático, entre a dúvida e a certeza, traçando círculos, envolta de si mesmo, até cansar e se sentar nos próprios pés, esperando que milagres aconteçam em sua mão direita.
Enquanto o primeiro e o segundo discutem tanto que se anulam, gritando os próprios nome a eles mesmos, o terceiro senta ao lado do próprio, vendo a batalha fervorosa que se destaca a sua frente.
E aos poucos a vontade passa e cai no esquecimento por osmose, do talvez que abraça o próprio e não o deixa caminhar com as próprias pernas.
Como, porque a fome não mata e a garganta não seca de sede.
Se matasse, a fome que eu sinto, não comia mais. Pois me alimento da própria fome de não ter nome. da fome que come o rastro pintado de vermelho na areia. Da fome que come o homem, antes que o homem a mate.
Me alimento da fome que não cessa nem é escassa. E que não mata, nem engorda, pois a fome que se faz alimento, é a própria morte, fingindo ser comida.

sábado, 10 de setembro de 2011

Qualquer coisa entre o céu e o poder, é onde fica essa vontade, essa necessidade de se libertar.
E onde menos se espera esgue-se uma bandeira de estrelas bordadas. Mas vai além, e por estar entre o céu, é tão ou mais poderosa do que ele mesmo. Vai, esse sentimento que não é sentimento nem estado, quanto mais imposição, é coisa indefinível. Vai e se expande para além dos muros, além das estremidades e dos pensamentos limitados. Vai por si só, como uma gás nobre, sem ser forçada, equilibrada, na temperatura ambiente. E sem querer, está em tudo, já é do mundo. E não se pode mais retroceder seu processo de interminável transformação.
Não são mais algemas que nos prendem, ou a censura que nos impede de falar.
São novos grilhões, mentais, provenientes dos anos que se passaram sem dor, instituindo um pensamento previamente moldado, cuidadosamente pensado para fazer com que o "pensar" seja um verbo malquisto pelos próprios seres pensantes. São poços intermináveis de futilidade, expostos para quem quiser ver. Estão nas ruas, estão nas mesas, nas igrejas, nos bares e no senado. É tristeza, quase ardor de ira, pela luta de tantos em prol da libertação física e moral, que em vão acudiu as massas, mortas pela prisão mental.
Estão escancarados os erros cruéis, e a indignação verdadeira parece nula. E bem certo, não são as atrocidades no exercício do poder que provocam a ira ensandecida no peito da pós revolução, mas a natureza morta do povo, que por motivos ainda desconhecidos, se deixa ludibriar, se deixa ser domada e desacreditada, e se levar por caminhos que não condizem com o ideal maior: liberdade.
Não com isso quero atribuir culpa a uma única fonte, sobre um evento que foi criado por uma espécie inteira. Não cabe julgar o ocorrido, mas cabe sim, lutar pelas vias contrárias e instituir novos eventos, independente de quais sejam, que possam reinstaurar a liberdade nas almas humanas. Esta, que se foi calada por tempo suficiente para esquecer como gritar seu nome, ainda assim, não foi extinta nunca.

Liberdade

"Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceio e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.

E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome." - Carlos Marighella